Economia com pessoas

"Economia com pessoas" foi o mote para o segundo encontro organizado pela Associação Abraçar Milheirós de Poiares que contou com a presença do Professor Américo Mendes, docente da Faculdade de Economia e Gestão da Universidade Católica do Porto.

Começou este "Serão de Primavera" pelas 21.30, no Salão Nobre da Junta de Freguesia, com troca de ideias descontraída entre o orador e a assistência, procurando enquadrar o título "Economia com pessoas". Na verdade, não deveria ser necessário sublinhar a ideia de que a economia serve as pessoas, porque, por natureza, terá de considerá-las. A economia são as pessoas e a relação entre as pessoas. "É de gente que nós estamos a falar", dizia. Contudo, parece que tudo estará reduzido a números, a frios números.
Para encontrar uma justificação para esta situação, procurou desenvolver o conceito de economia de mercado, destacando à partida a ideia de que nem todas as atividades são mercado. Por exemplo, quando oferecemos ou emprestamos um produto, fazemos circular um produto ou até um serviço, mas nesta situação não há mercado, isto é, não há troca de serviço ou produto por  dinheiro. 
O problema começa quando trocamos dinheiro por produtos ou serviços e tudo parece reduzir-se a números, ficando para segundo plano quem produz e em que condições o faz. No entanto, o mercado tem também as suas virtudes, pois, por exemplo, é capaz de aproximar ou incluir pessoas, mas logo o Professor destacou o reverso desta situação, dado que quem não tiver dinheiro, rendimentos, ou algo a dar em troca não é incluído neste sistema. Parece que, neste caso, como afirmou, "Só é gente quem tiver dinheiro ou recursos". A pobreza é, assim, uma realidade iniludível. E neste ponto referiu que, se não houvesse estado social, instituições de apoio nos países de mercado, a taxa de pobreza seria muito mais elevada. Em Portugal, por exemplo, poderia atingir mais de 40%.

Neste momento, o Professor Américo Mendes fez uma incursão pela história da economia de mercado e pelas suas principais características, destacando as potencialidades da facilidade de transporte e da internet que nas últimas décadas vieram desenvolver de forma acelerada o processo de globalização. Falou da crise financeira que começou em 2008 e das suas causas, das dívidas soberanas, hoje mais procuradas por investidores, da fácil deslocalização das empresas e da instabilidade do emprego que hoje se verifica.

De seguida, procurou enquadrar a situação atual de Portugal. E apontou e explicou várias causas como a quebra da indústria, a economia informal ou paralela, o envelhecimento da população, entre outras.
Em relação, por exemplo, à despesa social, lembrou que ela subiu muito nas últimas décadas mas que era bom não esquecer que antes de 1974 havia muito pouco, ao passo que noutros países da Europa os sistemas de proteção social foram desenvolvidos logo no pós-guerra.

Em relação a soluções, deu destaque a duas: se a economia paralela baixasse para metade do peso que assume neste momento em Portugal, isto é, para cerca de 10%, deixaríamos de ter défice, esta a primeira. A segunda passa por organizar instituições, como a Associação Abraçar Miheirós de Poiares, que se orientem pela democracia participativa numa atitude de vigilância crítica perante as instâncias políticas representativas. A comunicação social não bastará para cumprir este papel. 
E lembrou ainda, a propósito e a terminar, que em Portugal há mais de 50.000 instituições de ação social (cooperativas, associações, mutualidades, etc)  que produzem bens e serviços, representando cerca de 2,7% do PIB, constituindo-se, portanto, como um setor muito importante e como grande empregador, por vezes o único, sobretudo, nas regiões do interior do país.