Milheirós de Poiares | 3. Pessoas ilustres

Ruy Höfle de Araújo Moreira (1931-2000)

Ruy Höfle de Araújo Moreira, filho de Eugénio de Araújo Moreira e de Edith Höfle Moreira, nasceu a 18 de maio de 1931 no Porto e aí faleceu a 12 de julho de 2000.
Em 1955, casou com D. Maria João Almeida Brandão de Carvalho. Teve 8 filhos e, nesta altura, tem 15 netos. 
Viveu a maior parte do tempo no Porto, passando temporadas prolongadas na Quinta do Seixal, sita em Milheirós de Poiares, propriedade da família há mais de cem anos, à qual dedicava um carinho especial.
Profissionalmente, distinguiu-se como industrial, tendo sido fundador e proprietário de diversas empresas, de entre as quais se realça a Molaflex e outras que lhe estavam associadas em S. João da Madeira. Em 1974, o grupo incluía ainda sociedades ligadas a diversas atividades no Porto, em Lisboa, Madeira e Açores, Angola e Moçambique, empregando cerca de 2000 pessoas.
Paralelamente foi dirigente de diversas associações tais como a Associação Industrial Portuguesa, Associação Industrial Portuense, Associação Comercial do Porto e Associação dos Fabricantes da Indústria Automóvel, tendo sido inclusivamente um dos fundadores desta última.
Devido às suas realizações como empresário, Ruy Moreira foi em 1966 nomeado Comendador de Mérito Industrial.
Desportista, foi entusiástico velejador, tendo vencido diversos campeonatos a nível nacional, foi dirigente de clubes e presidente da Federação Portuguesa de Vela.
A seguir ao 25 de Abril de 1974, foi preso em consequência dos acontecimentos do 11 de Março, tendo estado detido durante 8 meses, sem que nunca lhe chegasse a ser formulada nenhuma acusação. Durante esse período, as suas empresas foram intervencionadas pelas Forças Armadas, tendo sofrido danos de que nunca recuperariam por inteiro. Na altura, motivou surpresa nacional uma manifestação de centenas de trabalhadores a favor da sua libertação, em frente ao Quartel General do Porto.
Empenhou-se em atividades autárquicas, tendo concorrido a presidente da Câmara Municipal de S. João da Madeira, sendo eleito vereador e, mais tarde, presidente da Assembleia Municipal dessa cidade.
Em Milheirós de Poiares, esteve ligado ao Centro Social Dr. Crispim T. Borges de Castro, foi dirigente do CDS-PP local, membro da Assembleia de Freguesia durante vários mandatos e apoiou diversas causas e iniciativas locais, nomeadamente, no âmbito escolar e religioso, oferecendo generosamente significativos subsídios e colocando a sua aprazível e enorme Quinta com capela, arborizada com espécies variadas e raras, à disposição dos milheiroenses.
Em todas as suas atividades, empenhava-se com um enorme entusiasmo e total dedicação, que lhe causaram, por vezes, dissabores, mas também o reconhecimento e a admiração por parte de quantos tiveram oportunidade de conviver com ele.





Recebemos um precioso contributo sobre RUY HÖFLE DE ARAÚJO MOREIRA da autoria do Sr. Eugénio Resende de Bastos que, de seguida, publicamos. É um excelente documento que poderá informar todos aqueles que valorizam a história desta terra. Além disso, será, com certeza, fonte de inspiração para quem pretende participar no 2.º Concurso Conhecer Milheirós de Poiares.


Alguns traços da figura de RUY HÖFLE DE ARAÚJO MOREIRA (1931-2000)


Nasceu no Porto, em 18 de Maio de 1931, onde sempre residiu, filho de Edith Auguste Elisabeth Höfle (de origem alemã), e de Dr. Eugénio de Araújo Moreira; com as suas raízes na família ALVES MOREIRA, do Seixal, Milheirós de Poiares. Daí a sua forte ligação a esta terra onde, desde criança e com regularidade, permanecia por períodos mais ou menos longos, na Quinta do Seixal, propriedade da família. Esta proximidade com Milheirós de Poiares e com as suas gentes foi continuada e reforçada ao longo de toda a sua vida e, ainda hoje, perdura viva através da sua esposa, D.ª Maria João de Almeida Brandão de Carvalho, com quem casou em 10 de Setembro de 1955, dos seus oito filhos e netos. A Família Moreira e a Quinta do Seixal continuam bem presentes na memória, no coração e na geografia desta terra e dos seus habitantes.

É impossível falar de RUY MOREIRA sem o associar, de imediato, à empresa MOLAFLEX.

Esta empresa foi constituída em Julho de 1951, tendo como fundadores o seu pai, Dr. Eugénio de Araújo Moreira e outro sócio de origem alemã, Senhor Siegfried Weinberg; por essa altura o filho Ruy, tendo completado vinte anos de idade, estava na força da sua juventude e no auge da sua preparação académica: “Licenciatura Business Administration na Universidade de Leeds - Reino Unido”; “Estágios em “shipping” - Londres, Antuérpia, Rotterdam”; domínio “escrito e falado em Português, Alemão, Francês, Inglês e Espanhol”. Era esse o momento certo para a sua entrada no mundo dos negócios. E assim aconteceu: no ramo industrial, ingressando na empresa MOLAFLEX – Molas Flexíveis, Ld.ª – S. João da Madeira; no ramo dos serviços e dos transportes marítimos, na empresa E. A. Moreira - Agentes de Navegação, SA. – Porto.

Mas, desde logo, foi na MOLAFLEX onde o seu tempo, as suas capacidades e a sua ação se tornaram mais evidentes.

No início a empresa tinha como “principal objetivo a fabricação de molas para estofos e coxins ou carcaças de molas”, desenvolvendo a sua “atividade numa pequena cave alugada (200 m2 aproximadamente), em S. João da Madeira”; para além da sua empenhada colaboração, dispunha apenas dos serviços de mais dois empregados e cinco operários. Só a partir de “Janeiro de 1954, foi iniciado então o fabrico e comercialização de colchões de molas, atingindo a produção diária de cinco unidades, em Agosto de 1955”; seguiu-se, em 1956, a concretização do projeto destinado ao arranque da produção de estofos para as Carruagens dos Caminhos-de-ferro; nesse mesmo ano foi decidido iniciar a construção do primeiro grupo de edifícios próprios, com uma área de 1.700 m2, na futura Zona Industrial do Orreiro, em S. João da Madeira; a respetiva inauguração ocorreu em 15 de Novembro de 1957. Nessa altura a produção de colchões de molas atingia já as vinte e cinco unidades/dia e o quadro de pessoal ao serviço subia para cinquenta trabalhadores, sendo vários deles naturais e/ou residentes em Milheirós de Poiares.

Continuando sob a dinâmica e o comando de Ruy Moreira, a MOLAFLEX manteve um ritmo de crescimento constante, aumentando a produção dos artigos já existentes e desenvolvendo novos produtos, com destaque especial para o fabrico de Molas Técnicas para a indústria (em 1959), Estofos para Automóveis (em 1962), bem como a constituição de novas empresas associadas, nomeadamente: EDAL – Estofos de Angola, Ld.ª – Luanda (em Dezembro de 1957); GAMETAL – Metalúrgica da Gandarinha, Ld.ª - Cucujães (em Julho de 1963); FLEXIPOL – Espumas Sintéticas, Ld.ª – S. João da Madeira (em Abril de 1964); FLEXITEX – Fábrica de Tecidos, Ld.ª – S. João da Madeira (em Novembro de 1965). 

O rápido crescimento das atividades desenvolvidas pela MOLAFLEX implicou, simultaneamente, a necessidade de adequar as suas estruturas organizativas, aumentar o quadro de pessoal, alargar a área dos terrenos, ampliar as instalações existentes e adquirir novas máquinas e equipamentos. Em 1966, ano das comemorações do XV Aniversário da fundação da empresa, registavam-se os seguintes indicadores: área dos terrenos: 29.000 m2; área coberta: 12.000 m2; número de empregados: 856; potência instalada, em KW: 709. Entretanto tendo já ocorrido o falecimento dos sócios fundadores foi decidido alterar o pacto social e aumentar o capital de 200 para 5.000 contos, repartido pelos herdeiros das respetivas famílias. Foi então criado um Conselho de Administração, presidido pelo sócio Ruy Höfle de Araújo Moreira, tendo como Vogais os sócios: Eng.º Mário Höfle de Araújo Moreira (irmão); D. Grete Höfle (tia) e Máximo Dário Becker Weinberg (filho do sócio falecido). Procedeu-se, também, a uma reorganização geral da empresa e à elaboração do seu organigrama, composto por várias Direções, Departamentos e Serviços, sendo nomeados os seus responsáveis e definidas as respetivas competências. O notório desenvolvimento, o crescimento dos volumes de produção e faturação (com destaque para as atividades dos colchões - 200 unidades/dia - e dos Estofos para Automóveis), o aumento do emprego e das novas tecnologias aplicadas, posicionaram a empresa num nível elevado da economia industrial do país, com impactos muito importantes no âmbito local e regional, sendo já considerada uma das maiores empresas do Concelho e do Distrito.

Daí que, as comemorações do XV Aniversário da MOLAFLEX, cujas cerimónias oficiais ocorreram em 25 de Outubro de 1966, tenham atraído a presença do Presidente da República Portuguesa, vários Ministros e Secretários de Estado, Governador Civil de Aveiro, Presidente da Camara Municipal de S. João da Madeira, além de outras altas individualidades. Nessa oportunidade, o Presidente do Conselho de Administração da empresa, no seu estilo envolvente e partilhado, dirigiu palavras de saudação “não só em nome da Administração mas também em nome de todos os colaboradores, empregados e assalariados com quem tanto nos prezamos de viver o dia-a-dia, em paz, tranquilidade e mútua compreensão, condições essas que têm sido a base da nossa razão de ser e da nossa expansão”. Após esta referência ao clima laboral favorável vivido na empresa, prosseguiu com alguns esclarecimentos, realçando o facto de se tratar de uma “empresa jovem, em que a média das idades dos seus 800 colaboradores diretos não chega a atingir os 27 anos, refletindo o espirito da nova geração industrial portuguesa”. Mais adiante, referiu a preocupação e a aposta da empresa no desenvolvimento dum Programa de Politica Social, exemplificando: “temos dedicado o melhor da nossa atenção… e mesmo para além do cumprimento das leis temos procurado dar um carácter humano nas relações entre dirigentes e dirigidos. São disso exemplo: A construção deste Pavilhão Social; O transporte ao domicílio do pessoal que trabalha em turnos; Criação e manutenção do Posto de Telescola; Treinos e estágios de pessoal no estrangeiro; Pagamento de propinas e material didático para frequência de cursos industriais; A atribuição de gratificações no fim do ano procurando interessar todos nos lucros da empresa; Prémios de produção e de assiduidade ao trabalho; Criação de condições de trabalho para além dos mínimos legais; Financiamento para a construção de habitações; Assistência médico-social permanente; Planeamento de uma ação social extensiva às famílias”. A empresa MOLAFLEX mantinha na região uma política pioneira na aplicação de vários benefícios sociais facultativos aos seus trabalhadores, com destaque para “a gratificação no fim do ano” que poderá ter sido o embrião do “Subsídio de Natal” e de outros benefícios só muito mais tarde instituídos, oficialmente, a nível nacional. Outras informações foram prestadas pelo Presidente do Conselho de Administração da MOLAFLEX, Senhor Ruy Moreira, referindo os aspetos técnicos e económicos envolventes, realçando a importância da empresa no contexto da economia nacional ao produzir os componentes para incorporar na indústria automóvel, baixando assim as necessidades de importações desses produtos. Antes da visita guiada às instalações, com a participação de todos os convidados, o Chefe de Estado proferiu palavras de agradecimento e acrescentou: “Não há dúvida que estou numa empresa jovem, mas ao mesmo tempo modelar e isso deve-se à vontade de quem a tem dirigido…”; e, em reconhecimento do mérito do empreendimento na pessoa do Senhor Ruy Moreira, continuou: “vou ter o prazer de colocar ao seu peito a condecoração que de muito boa vontade concedi com a convicção plena de que o fiz com o máximo da justiça”.
                                          



Para além desta distinção com a “Comenda de Mérito Agrícola e Industrial”, seguiu-se, mais tarde, em 1972, a atribuição da “Medalha do Infante D. Henrique”.

A aposta no crescimento das atividades produtivas nas várias empresas já existentes, não impediu que fossem ainda constituídas novas sociedades, a saber: POLIANG – Poliuretanos de Angola, Ld.ª – Viana/Angola (em 1969); FIBREGLASS – Moçambique, Ld.ª – Lourenço Marques em 1971); AMOC – Sociedade Açoreana de Colchões e Móveis, Ld.ª – Angra do Heroísmo (em 1972).

Contudo, a principal empresa em dimensão, número de empregados, volume de faturação, novos investimentos, aumento da área coberta dos edifícios, envolvimento de capital… continuava a ser a MOLAFLEX – Molas Flexíveis, Ld.ª – S. João da Madeira. O crescimento desta empresa e o elevado nível de investimentos realizados para responder à sua expansão evidenciavam a necessidade dum reforço dos seus capitais próprios, como forma de atenuar o endividamento bancário. Foi assim que, em finais de 1973, foi decidido alterar o seu pacto social, de sociedade por quotas para S. A. (Sociedade Anónima). A subscrição do aumento de capital, para além de envolver os atuais sócios, foi também aberta aos trabalhadores, aos clientes e aos fornecedores da empresa, em condições preferenciais, (efeitos da socialização do capital da empresa). Este plano pretendia agregar à volta da empresa, em esforço conjunto, as suas principais forças dinamizadoras: os detentores do capital; a força do trabalho; a dinâmica comercial/mercado; e os credores da empresa. Para pôr em prática este plano foi necessário algum tempo destinado a reuniões de informação e esclarecimento junto dos eventuais interessados, realizadas em várias localidades do país. Esta ação, apresentando o plano e disponibilizando “Boletins de Subscrição de Capital” para serem preenchidos e entregues pelos interessados, foi coordenada e dinamizada pelo Senhor Ruy Moreira, figura principal da empresa e seu representante máximo, acompanhado por outros Administradores e colaboradores. Decorridos alguns meses, já em 1974, foi formalizada a transformação da sociedade e o aumento do seu capital social, com a estrutura acionista previamente delineada, sendo então efetuada a escritura de alteração do pacto social e alterada a denominação da empresa para: INDUSTRIAS MOLAFLEX, SA.

Paralelamente à implementação desta nova fase da vida da empresa deu-se a revolução do 25 de Abril de 1974: acontecimento marcante na conquista das liberdades, embora sujeito a uma longa caminhada de aprendizagem, quer no exercício da cidadania, quer nos comportamentos de âmbito individual e coletivo… Os efeitos deste importante acontecimento foram sentidos, de imediato, em todas as estruturas do país: política, económica, social, laboral, empresarial…; seguiram-se tempos de acentuadas convulsões sociais, forte retração económica e significativa redução de encomendas, sobretudo numa empresa como esta cuja atividade principal estava voltada para a indústria automóvel e com total dependência do mercado interno. Para além da instabilidade e das dificuldades económicas vividas a nível nacional, foram introduzidas grandes alterações nos impostos, penalizando fortemente o automóvel e dificultando a sua comercialização em Portugal. Com esta situação adversa ao nível do mercado, a estrutura da empresa, sólida e em franco crescimento, envolvendo muitas centenas de postos de trabalho, transformou-se numa estrutura em crise, com resultados negativos, aumento do endividamento e excesso do número de trabalhadores. Tudo isto foi fortemente agravado com os acontecimentos ocorridos em 11 de Março de 1975 que ditaram a nacionalização da Banca, a ocupação das terras e a expulsão dos grandes proprietários agrícolas (a chamada Reforma Agrária), bem como a nacionalização de muitas empresas industriais e a perseguição política de muitos dos seus acionistas e administradores. Estas intervenções, de cariz ideológico, tinham como objetivo coletivizar os meios de produção do país, atingindo as empresas consideradas mais rentáveis e com maior peso económico. Foi assim que, na MOLAFLEX, ocorreu a detenção do seu principal acionista e Presidente do Conselho de Administração, Senhor Ruy Moreira, por mandado do Conselho da Revolução. Os meses que se seguiram a estes episódios foram vividos na empresa com grandes preocupações e incertezas, quer quanto à sua viabilidade económica quer quanto à manutenção dos postos de trabalho. Tudo isso, aliado à falta de informações sobre os fundamentos e a continuidade da detenção do referido Administrador no Estabelecimento Prisional de Custóias, fez com que os trabalhadores, em Plenário e por maioria, decidissem organizar uma manifestação pública, frente ao Quartel-General Militar, no Porto, com o objetivo de serem elucidados sobre os motivos da permanência de tal detenção, considerada injusta. A concretização dessa decisão, que mobilizou cerca de 1.200 trabalhadores da empresa, foi mal aceite pelos poderes militares, incluindo o Comandante da Região Militar Norte, por a considerarem uma ameaça à dinâmica vigente vivida pelo PREC (Processo Revolucionário em Curso); além disso, tal manifestação suscitou algumas interrogações: como era possível que tantos trabalhadores se manifestassem a favor da liberdade dum patrão? Quem estaria por detrás dessa organização? Daí resultaram várias consequências imediatas: rejeição da proposta de audiência a uma delegação dos trabalhadores, encabeçada pelo seu Presidente da Comissão de Trabalhadores; expulsão violenta, das instalações do Quartel-General, do referido representante dos trabalhadores, seguida da sua detenção e posterior transferência para a prisão de Custóias, onde permaneceu cerca de quinze dias; mobilização popular de uma contra manifestação, organizada ao fim da tarde, com intervenção de forças civis adversas, em conluio com forças militares, para hostilizar e dispersar os trabalhadores; transferência secreta, durante a noite, da prisão de Custóias para a prisão de Caxias, do Administrador detido, onde permaneceu até perfazer cerca de dez meses, acabando por ser libertado sem qualquer culpa formada e sem julgamento; ocupação militar das instalações da empresa, em S. João da Madeira, no início da manhã do dia seguinte, por militares armados; suspensão das funções dos membros do Conselho de Administração da empresa e nomeação duma comissão de gestão, de cariz militar; congelamento de todas as contas bancárias da empresa e das contas pessoais de todos os seus Administradores e Procuradores. Os meses que se seguiram a estes acontecimentos, com a presença dos militares na gestão da empresa, organização de “campanhas de mentalização ideológica” junto dos trabalhadores por elementos da “célebre” 5.ª Divisão do MFA - Movimento das Forças Armadas, ameaças veladas de saneamentos, inquirições pessoais improvisadas, tentativas de confrontação entre trabalhadores afastando uns e promovendo outros para os seus lugares… geraram um clima de desconfiança e mal-estar generalizados.

Entretanto, a situação social, política e económica do país continuava instável e complexa, com manifestações e posições contraditórias. Foi assim que, começando no Norte e estendendo-se depois a quase todo o país, se gerou um fenómeno de hostilidade contra várias forças políticas mais extremistas algumas delas com práticas e intervenções armadas; as ações eram organizadas e participadas por grupos de cidadãos, incendiando e destruindo as sedes dessas Organizações e impedindo a sua continuidade nas várias localidades. Estes acontecimentos foram designados como “Verão Quente de 1975”. Algum tempo depois de todas estas ocorrências, os militares deixaram a empresa e deu-se a retoma de funções por parte da Administração legítima (embora sem a presença do seu Presidente, Ruy Moreira, que permanecia, incompreensivelmente, detido). A MOLAFLEX continuava a viver uma situação de dificuldades acrescidas, resultantes da insuficiência de encomendas, do excesso de mão-de-obra, do peso dos encargos fixos e da degradação da sua estrutura financeira; também os encargos financeiros atingiam valores incomportáveis, devido ao excessivo montante do endividamento e às elevadas taxas dos juros cobrados pelos Bancos, que chegaram a ultrapassar os 20%. Nos anos que se seguiram foi necessário encontrar soluções de contenção e de reajustamento das estruturas da empresa, adequando-as às realidades do mercado; a mesma exigência foi colocada quanto ao passivo bancário, sendo elaborado um plano concreto para negociação com os principais credores que, entretanto, veio a ser formalizado através dum instrumento legal designado por “Contrato de Viabilização”, assinado com os principais Bancos credores, adequando os montantes da dívida, os prazos e os juros às previsões mais realistas da empresa.

Na mesma linha de preocupação sobre o futuro da empresa, os principais acionistas decidiram negociar com o empresário Jorge Melo (Ex - CUF) a sua entrada num aumento do capital da MOLAFLEX, sendo este realizado através da mobilização de “Títulos de Indemnização” por ele detidos, como resultado das indemnizações atribuídas pelo Estado em consequência das nacionalizações de várias empresas que pertenciam à “Família Melo”. O montante subscrito no aumento de capital da empresa foi aplicado na redução do seu passivo bancário, aliviando assim, os correspondentes encargos financeiros. Fruto dessa parceria o novo acionista entrou para a empresa em Maio de 1982, com o direito a nomear três Administradores. O novo Conselho de Administração passou a ser constituído por elementos de ambos os grupos mas sem a participação direta do Senhor Ruy Moreira. Mesmo assim os anos que se seguiram não foram fáceis: a empresa continuava com uma atividade reduzida, com escassez de encomendas, e, apesar de terem sido introduzidos alguns reajustamentos, quer na redução do número dos seus efetivos quer na sua estrutura geral, os resultados mantinham-se insuficientes. Esta parceria durou até finais do ano de 1987, altura em que, segundo o contrato existente, o Senhor Ruy Moreira decidiu “readquirir uma posição acionista rigorosamente paritária em relação ao outro grupo acionista” e retomar a correspondente posição na gestão da empresa. Concluídas tais negociações, ficaram reunidas as condições para vender a maioria do capital da empresa a um Grupo Francês, denominado Bertrand Faure, com o qual já existiam outras participações de capital, conjuntas, em duas sociedades portuguesas (FLEXIPOL e GAMETAL). Este Grupo exercia uma atividade industrial semelhante à da MOLAFLEX (nomeadamente: fabrico de colchões de molas e bancos para automóveis), embora com uma dimensão e um volume de negócios bastante superiores. Nesta altura a MOLAFLEX já tinha entrado no mercado de exportação e, desta forma, o Grupo Francês agregou um concorrente, passando a ter uma posição internacional mais abrangente.

No início de 1988 o Grupo Bertrand Faure assumiu, então, o controle e a gestão da empresa, na posição de principal acionista (mais de 90%), vindo mais tarde a adquirir, por direito, o restante capital, atingindo os 100%. O Senhor Ruy Moreira apesar de ter deixado de pertencer à MOLAFLEX disponibilizou sempre aos novos proprietários, com os quais mantinha, desde há muito, uma grande proximidade, toda a melhor colaboração e apoio. Certamente que nas suas principais preocupações aquando da alienação da empresa, teve sempre presente a garantia da continuidade laboral em Portugal e a manutenção dos postos de trabalho. De facto, assim aconteceu. Tratando-se de um Grupo internacional altamente credenciado, conhecedor do ramo de negócio, concretamente do mercado da indústria automóvel desencadeou, de imediato, várias ações importantes para o relançamento da empresa, nomeadamente: saneamento financeiro, com um significativo aumento de capital; diminuição do endividamento bancário e dos juros suportados; reestruturação dos vários Serviços, atribuindo maior autonomia e responsabilidade a cada área de atividade; aquisição de novos equipamentos e reconfiguração do “layout” industrial; articulação da dinâmica comercial estabelecendo uma política conjunta inter-grupo; disponibilização de “know-how”; certificação de qualidade a nível internacional e junto dos principais construtores mundiais do ramo automóvel… Estavam garantidas as condições para o desenvolvimento efetivo da empresa que, em 1989, passou a denominar-se: BERTRAND FAURE PORTUGAL, SA. A internacionalização da empresa e do seu capital representaram uma mais-valia muito significativa, de tal maneira que, decorridos poucos anos, readquiriu a necessária saúde económica e financeira, passou a gerar resultados altamente favoráveis, aumentou o número de trabalhadores e, dentro do conjunto do GRUPO BERTRAND FAURE, granjeou um estatuto de prestígio tecnológico, de gestão e de rácios de rentabilidade destacáveis. A dinâmica introduzida pelo GRUPO BERTRAND FAURE nesta empresa Portuguesa, acompanhou o crescimento do próprio Grupo a nível internacional, com uma forte aposta no ramo automóvel. Com este objetivo foram destacados e vendidos os negócios e participações em empresas cujas atividades não se enquadravam nesse ramo, tanto em França como em Portugal.

As alienações em Portugal foram: atividade de colchoaria, a um Grupo Espanhol, após ter sido constituída uma empresa autónoma designada MOLAFLEX COLCHÕES, SA; atividade de molas técnicas, a um grupo Alemão, depois de ter sido constituída uma empresa autónoma designada MOLTEC, Ld.ª; participação na empresa FLEXIPOL, a um grupo Espanhol; participação na empresa GAMETAL a um Grupo Alemão. Todas estas empresas continuaram a desenvolver as suas atividades em Portugal, gerando emprego e criando riqueza no país. Os valores resultantes das alienações foram totalmente reinvestidos em Portugal no desenvolvimento da atividade relacionada com a indústria automóvel, na qual o Grupo decidiu concentrar toda a sua atividade. Ainda nesta linha de crescimento o Grupo BERTRAND FAURE e o Grupo ECIA, ambos Franceses (este último ligado à multinacional Francesa PSA - PEUGEOT/CITROEN) acertaram em efetuar uma fusão, dando lugar ao nascimento do Grupo FAURECIA; este Grupo, com sede em França, pela sua dimensão passou a ser o maior produtor europeu de bancos e outros componentes para a indústria automóvel, sendo, simultaneamente, o quinto maior Grupo mundial nesse ramo. Foi neste contexto que, no ano 2000, a sua principal empresa em Portugal, alterou a sua designação social para: FAURECIA - ASSENTOS DE AUTOMÓVEL, LDA., com sede em S. João da Madeira, denominação que ainda hoje se mantém. Para além desta empresa, o Grupo FAURECIA, constituiu em Portugal mais quatro entidades: SASAL, em Vouzela; EDA, em Nelas; FAURECIA ESCAPES, em Bragança e FAURECIA COMPONENTES, em Palmela. Neste conjunto de cinco empresas o Grupo FAURECIA empregava em Portugal mais de 2.500 trabalhadores. Para além destas empresas, o Grupo FAURECIA detinha ainda, em várias parcerias, outros investimentos em empresas portuguesas, todos ligados ao ramo automóvel.

É também de salientar a atividade empresarial continuada pelo Senhor Ruy Moreira no período pós MOLAFLEX, mantendo participações sociais em cerca de doze sociedades, com atividades diversas nos ramos Imobiliário, Serviços e Comércio. A fim de agregar e gerir essas sociedades foi constituída uma “Holding Familiar”, denominada MORIMOR – Sociedade de Controlo Moreira, Ld.ª (SGPS), com sede em Milheirós de Poiares, sendo essa a sua “atividade principal” em 01/01/1995.

A Memória perdurará!


Notas finais:
1.       A elaboração deste trabalho (cujas citações utilizadas tiveram origem em documentos antes publicados e em outras informações de acesso restrito) constitui uma singela homenagem à Memória do Senhor RUY HÖFLE DE ARAÚJO MOREIRA, versando, sobretudo, os seus “carismas” como Empresário e como Gestor; foi dado especial destaque ao seu empenho e dedicação na atividade desenvolvida ao serviço das Empresas do GRUPO MOLAFLEX, tão marcante na vida e na memória de muitos Milheiroenses que ali foram acolhidos e onde trabalharam, de forma apaixonada, durante longos anos;

2.       Existem, contudo, muitas outras facetas importantes da vida do Senhor RUY MOREIRA a merecerem realce, nomeadamente: compromisso familiar; empenhamento cívico e político; ação social com pessoas e instituições; participação ativa em várias Associações Industriais, Comerciais e Culturais; atividade desportiva como praticante de Vela, dirigente associativo e organizador de várias provas nacionais e internacionais; e tantas outras Instituições, Empresas, Fundações e Associações de que foi fundador e dinamizador;

3.       Fica lançado o desafio: “porque a Vida não acaba, apenas se transforma”; e a Memória continua a ser o garante dessa Esperança.   

Janeiro de 2015                                                                          

                                                                                     Eugénio Resende de Bastos
                                                                                     Email: er.bastos@sapo.pt

António José de Bastos (1833-1910)


António José de Bastos, inolvidável benemérito, nasceu no lugar do Pereiro, a 27 de Dezembro de 1833, filho de Domingos José de Bastos e de Rosa Gomes.
Grangeou uma pequena fortuna no Brasil. Regressando a Portugal, foi residir para o Porto, na rua Faria de Guimarães. Foi guarda-livros da C.ª Carris de Ferro do Porto. 
Faleceu no dia em que completava 77 anos de idade, estando sepultado em campa junto à entrada do cemitério velho.
Viúvo, tendo-lhe falecido a esposa e uma filha única, deixou testamento, instituindo a Junta de Freguesia de Milheirós de Poiares universal herdeira dos seus bens, com a condição de construir um edifício escolar e pagar a um professor, se necessário, caso contrário, acudir com dádivas às pessoas carenciadas. Assim, para além da sua casa situada na rua Faria de Guimarães, que ainda continua na posse da Junta de Freguesia, deixou avultada quantia em dinheiro, que chegava para construir a escola e algo mais.


Comendador António José de Pinho (séc. XIX-XX)

Natural de Milheirós de Poiares, o Comendador António José de Pinho foi para o Brasil quando era ainda muito novo. Dotado de muitas qualidades, das quais se realça a grande dedicação ao trabalho e espírito altamente empreendedor, aí exerceu diversos cargos em bancos e companhias de seguros. Foi sócio das firmas Mello & C.ª, A. J. de Pinho & C.ª, Ismael Hall & C.ª e Pinho, Montenegro & C.ª. Foi um dos maiores acionistas do Mercado do Ferro e chegou a ser classificado como o primeiro dos vinte maiores contribuintes.
Nunca esqueceu a sua terra natal, onde se deslocava frequentemente. O seu contributo para a construção da atual igreja paroquial foi muito considerado e decisivo, bem como o dos seus irmãos Manuel António de Pinho, José António de Pinho e Manuel José de Pinho, estimados proprietários. Existiram, até há alguns anos, na sacristia do lado direito da igreja, retratos a óleo destes beneméritos, juntamente com os de Dr. Crispim T. B. de Castro, António José de Bastos e de um irmão do Doutor Guilherme Alves Moreira, figuras que muito honraram a freguesia onde nasceram.


Dr. Bernardo Almeida Costa (1915-1975)

Dr. Bernardo Almeida Costa, filho de Rufino de Oliveira Costa e de Rosa Maria de Almeida, nasceu na centenária casa das Relvas a 26 de março de 1915. Casou com Celeste Pereira da Silva Costa, natural de Oliveira de Azeméis. Teve 3 filhos, um dos quais, Dr. Carlos Costa, foi Secretário de Estado.
Licenciou-se em Medicina pela Universidade de Coimbra em 1947. Médico conceituado e muito dedicado, empenhou-se na instalação dos serviços médicos da Caixa de Previdência de S. João da Madeira, cuja área de influência abrangia Milheirós de Poiares. Para além de prestar serviços no consultório da sua casa das Relvas, onde residia, e no referido Posto Médico da Caixa, também foi médico do Hospital de S. João da Madeira, do Tribunal do Trabalho de Aveiro e da Feira.
Embora o exercício da medicina fosse a sua atividade preferida, desempenhou alguns cargos públicos tais como presidente da Junta de Freguesia desde 1951 até 1954 e vereador da Câmara Municipal durante a presidência do Dr. Domingos Coelho. 
Faleceu no ano de 1975. 



Dr. Crispim Teixeira Borges de Castro (1871-1962)

Nasceu a 4 de agosto de 1871, na casa da Mámoa. Formou-se em medicina na Universidade de Paris, cujo curso concluiu em 1900, vindo a revelar-se um excelente profissional  que não cobrava honorários. 
No entanto, dedicou também uma grande parte da sua vida à atividade política local, desempenhando os seguintes cargos: presidente da Junta de Freguesia de Milheirós de Poiares desde 1914 a 1917 e de 1919 a 1925., presidente da Comissão Administrativa da Câmara Municipal da Feira de 1926 a 1933, conselheiro municipal em 1937 e noutras gerências posteriores, presidente da União Nacional a nível concelhio, etc..
Casou em Vila Fria, em 8 de junho de 1940, com a sua prima D. Judite Pita de Abreu Teixeira.
Muito dedicado à educação e ensino dos seus conterrâneos, participava com frequência em festas escolares e premiava os melhores alunos. Promoveu a construção da imponente escola primária do lugar da Igreja.
Contribuiu decisivamente para a melhoria da rede viária, nomeadamente, construiu a ponte da Mámoa, anterior à atual, e abriu a avenida que segue para a Igreja.
Impulsionou a criação de uma cooperativa destinada ao fornecimento de energia elétrica. 
Era frequentemente solicitado a resolver pequenas desavenças e as suas palavras eram tidas em muita estima e consideração.
Doou à freguesia que lhe foi berço o seu enorme e valioso património que muito contribuiu e continua a contribuir para o seu progresso social, cultural e recreativo.


Comendador Domingos Francisco de Bastos (séc. XX)

O Comendador Domingos Francisco de Bastos, natural do lugar de Gaiate, emigrou para o Brasil onde grangeou fortuna. Tendo em conta as suas benemerências, foi galardoado pelo Chefe do Estado com o título de Comendador. 
Visitava assiduamente Milheirós de Poiares, revelando-se sempre um grande amigo e benfeitor. 


Dr. Fernando Almeida Cromwell Maia Vilano (1913-1956)

Dr. Fernando Almeida Cromwell Maia Vilano, filho de Januário Augusto Vilano Maria Rosa de Pinho Maia, nasceu a 12 de fevereiro de 1913 na freguesia de Santa Marinha, concelho de Vila Nova de Gaia.
Frequentou a Faculdade de Medicina do Porto, tendo concluído o respetivo curso em 1944. 
Após o casamento com a Profª Arlinda da Silva Correia, residiu no lugar dos Casais em casa de sua família. Aí montou consultório médico, não cobrando honorários às pessoas de parcos recursos económicos. 
Foi impulsionador da criação dos serviços médico-sociais de S. João da Madeira, designados Caixa de Previdência, que abrangiam uma área geográfica que incluía Milheirós de Poiares. 
Faleceu em Setembro de 1956.


Floriano Borges Alves (Séc. XX)

Floriano Borges Alves nasceu na vizinha freguesia de Romariz.
Casou com Maria Rosa de Pinho Maia, ficando a residir em Dentazes.
Foi grande benemérito. Efetivamente, doou à Junta de Freguesia o terreno denominado Cortinhal, com a área de sete mil e quinhentos m2, situado no referido lugar de Dentazes, destinado à prática de desportos, que está a ser utilizado pelo Grupo Desportivo Milheiroense e que é chamado Campo Floriano Borges.


Dr. Gaspar Alves Moreira (1870-1938)

Dr. Gaspar Alves Moreira nasceu em 1870 na casa da Eira.
Desde jovem radicou-se na Vila da Feira, onde exerceu diversos cargos públicos: administrador do concelho de 1904 a 1906 e em diversos períodos compreendidos entre 1906 e 1910; vereador de 1914 a 1917, em 1918, de 1919 a 1922, de 1923 a 1925 e 1926; vice-presidente da Comissão Administrativa desde 1926 a 1933 e presidente da Comissão Administrativa desde 1933 a 1937.
Faleceu em 1938.


Doutor Guilherme Alves Moreira (1861-1922)

Doutor Guilherme Alves Moreira, filho de Manuel Alves Moreira e Rosa Francisca da Silva, nasceu na casa da Eira, no Seixal, a 21 de março de 1861.
Matriculou-se em Direito, na Universidade de Coimbra, em 1882, obteve o grau de bacharel em 1886, de licenciado em 1888 e de doutoramento em 1890.
Em 1891, iniciou a carreira de professor da mesma universidade, regendo várias cadeiras. Em 1897 foi promovido a professor catedrático.
Foi secretário da Faculdade de Direito de 1891 a 1895.
Escreveu artigos de reconhecido mérito em várias revistas da especialidade, nomeadamente, na Revista de Legislação e Jurisprudência.
Exerceu o cargo de Reitor da Universidade, eleito para o efeito, desde 1913 até 1915, altura em que renunciou por ter sido nomeado Ministro da Justiça do Governo de Pimenta de Castro.
Foi Diretor da Faculdade de Direito desde 1918 a 1921. 
Notabilizou-se sobretudo pela obra intitulada Instituições do Direito Civil Português, que, segundo entendidos, era um verdadeiro monumento da ciência jurídica portuguesa.
Faleceu em Coimbra a 19 de Agosto de 1922.
Uma das ruas que ladeiam a Faculdade de Direito de Coimbra tem o seu nome. Também foi homenageado em Santa Maria da Feira com um busto e uma rua e, em Milheirós de Poiares, com afixação de uma lápide comemorativa do centenário do seu nascimento na referida casa da Eira.


João Alves Moreira (Séc. XIX-XX)

João Alves Moreira, possuidor de avultada fortuna, foi um grande benemérito.
Faleceu em fevereiro de 1928.


Joaquim Alves Moreira (1858-1926)

Joaquim Alves Moreira nasceu na casa da Eira, no Seixal. 
Foi emigrante no Brasil de onde regressou em 1890 com grande fortuna. Seguidamente, foi conceituado empresário e co-fundador do Banco Sottomayor, mais tarde, Pinto & Sotto Mayor. Foi grande benemérito aquando da construção da escola primária do lugar da Igreja. De facto contribuiu muito para a dita escola, mas modestamente achou bem que a contribuição aparecesse em nome do seu irmão João, conforme informação do seu familiar Ruy Höfle de Araújo Moreira, a quem aliás se deve grande parte das informações relativas à família Moreira. 



José Domingos Ribeiro de Resende (Séc. XX)

José Domingos Ribeiro de Resende, natural de Milheirós de Poiares, escreveu vários livros de poesia, entre outros, Folhas Dispersas, composto e impresso na empresa Gráfica Feirense, L.da, Vila da Feira, em 1980. Aí no poema intitulado Nossa Terra refere-se à freguesia onde nasceu nestes termos:
" (...)
Minha terra! Minha terra!
Lembra-me infantis brinquedos,
campinas cheias de cor,
desfolhadas, romarias,
descantes, sonhos de amor!"


Pe. Manuel de Bastos Fernandes (1916-1992)

Pe. Manuel de Bastos Fernandes, filho de António Fernandes e de Maria Rosa de Bastos, nasceu a 12 de março de 1916 e faleceu a 9 de fevereiro de 1992.
Ordenado sacerdote em 4 de agosto de 1940, foi coadjutor em Fânzeres, concelho de Gondomar, e pároco das freguesias de Vila Fria e Vizela, concelho de Felgueiras.
Legou à Fábrica da Igreja de Milheirós de Poiares um prédio urbano, constituído de cave e rés-do-chão, destinado a comércio, sito na Rua Doze da cidade de Espinho.



Manuel Joaquim Correia de Sá Júnior (Séc. XX)

Manuel Joaquim Correia de Sá Júnior residiu na casa da Eira, no Seixal.
Foi presidente da Junta de Freguesia desde 1926 a 1950 e vereador da Câmara Municipal.
Entre inúmeras obras levadas a cabo neste quarto de século, realça-se a abertura da rua do Seixal aos Casais, incluindo a construção da respetiva ponte, que contou com a sua grande colaboração pessoal.


Conselheiro Manuel Oliveira Costa (1842-1916)

Pe. Manuel Oliveira Costa, filho de Bernardo de Oliveira Costa e Ana Maria Leite, natural de Milheirós de Poiares, foi pároco de Arrifana.
Exerceu vários cargos políticos. Efetivamente foi chefe concelhio do Partido Progressista; presidente da Comissão Administrativa do concelho da Feira em 1897 e 1899; presidente da Câmara Municipal da Feira de 1897 a 1898, de 1899 a 1901, de 1902 a 1904 e de 1908 a 1910.
Fez parte da redação do Jornal da Feira juntamente com Dr. Gaspar Alves Moreira e Dr. Crispim T. Borges de Castro, entre outros.
Doou à paróquia terrenos junto à capela do S. Geraldo para lhe servirem de adro.
Faleceu no lugar de Fundo de Aldeia, onde residia, a 10 de dezembro de 1916, com a idade de 74 anos.


Eng.º Mário Höfle de Araújo Moreira (1930-1978)

Eng.º Mário Höfle de Araújo Moreira nasceu em 1930 na Quinta do Seixal. Foi deputado eleito em 1973, fazendo parte da ala liberal, que era composta também pelos Drs. Francisco Sá Carneiro, Pinto Balsemão, Pinto Leite e Mota Amaral. Foram destituídos após dissolução da Assembleia Nacional em 1974. 
Faleceu em 1978, vítima de desastre de automóvel.


Dr. Rufino Joaquim Borges de Castro (Séc. XIX)

Dr. Rufino Joaquim Borges de Castro nasceu nasceu na histórica Casa da Mámoa.
Foi Administrador do Concelho desde 1863 a 1868.


D. Sebastião Soares de Resende (1906-1967)

D. Sebastião Soares de Resende nasceu a 14 de junho de 1906 na freguesia de Milheirós de Poiares, no lugar de Milheirós. 
Foi ordenado sacerdote a 21 de outubro de 1928 e celebrou a primeira Missa na igreja matriz da sua terra natal, no domingo seguinte. 
Cursou Filosofia, Teologia e Ciências Sociais em Itália.
Criada a diocese da Beira em 1940, foi o primeiro Bispo eleito a 24 de abril de 1943 e ordenado na Sé do Porto em 15 de agosto.
Tomou posse da diocese a 1 de dezembro desse ano, revelando-se um prelado culto e piedoso, defensor intransigente da Verdade, da Justiça e dos Direitos do Homem. Para além de escritor claro e doutrinador pioneirista na complexa problemática social de Moçambique, empreendeu a fundação de colégios e Missões, abriu seminários, lançou o jornal Diário de Moçambique, criou a Rádio Pax e chegou a impulsionar a criação de uma universidade no Ultramar. 
No II Concílio do Vaticano, foi o português mais participante e teve, juntamente com D. António Ferreira Gomes, intervenções notáveis.
Faleceu prematuramente, vítima de doença incurável, em 25 de janeiro de 1967, tendo sido sepultado no cemitério da Beira, em campa rasa, em local mais calcado pelos visitantes, conforme sua vontade. 
Em 25 de janeiro de 1992, foi alvo de uma homenagem na freguesia, por ocasião do 25º aniversário do seu falecimento, tendo sido descerrada a placa da rua com o seu nome, afixação de inscrição alusiva à casa onde nasceu e publicação de pagela que incluía o seu retrato e um pequeno texto biográfico baseado num trabalho do eloquente milheiroense Dr. Carlos A. Moreira Azevedo, seu biógrafo, que me inspirou no tratamento desta figura.